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Blog da HashInvest

DeFi – Dando liquidez ao mercado de Criptomoedas

Postado em 05/02/2021

Nome do Autor luis

Texto originalmente publicado na newsletter HashInvest de 01/09/2020

O texto a seguir é longo e meio chato, mas vai te contar com relativa clareza porque os DeFi estão entrando na moda, e vai lhe ajudar a entende para onde caminha o mercado de Criptomoedas nesse momento.

Se você entende bem o que é liquidez e profundidade de mercado, pode pular os dois primeiros tópicos do texto sem nenhum prejuízo. Se esses conceitos não são claros para você, seguem explicações para entendimento superficial.

LIQUIDEZ

Liquidez no mercado financeiro vem a ser a facilidade e o conjunto de condições para que um ativo se transforme em outro.

Por exemplo, o dólar americano é hoje o ativo mais liquido do mundo. Você consegue trocar dólares por praticamente qualquer coisa em qualquer quantidade pelo valor nominal da coisa. Basicamente, com dólares você compra o que quiser, na hora em que você tem vontade e geralmente obtém melhores preços por isso.

Na outra ponta, temos obras de arte. Por mais valiosas que sejam, são altamente ilíquidas. Não é raro que dada a falta de liquidez nesse mercado, sejam necessários leilões organizados, no qual inclusive, irá se descobrir o real valor do ativo. É um processo de meses entre a transformação de uma obra de arte de primeira linha e dinheiro.

No meio do caminho temos os imóveis, cuja liquidez é uma variável controlada pelo mercado e pelo proprietário. Se o proprietário desejar vender rápido ele precisa baixar o preço… Se não tem pressa, coloca a valor ligeiramente superior ao de mercado. Não são propriamente líquidos e tem sua linha de base relativamente conhecida (valor do m2 em determinado local).

A falta de liquidez em qualquer mercado gera grandes distorções… Não precisamos ir longe para ver um exemplo real. Com câmbio acima de 5 Reais, produtos e comerciantes de arroz passaram a discordar sobre o valor justo da mercadoria. Produtores encontraram compradores fora do país e a mercadoria ficou escassa. A falta de liquidez resultou numa brutal distorção de preços no comercio local.

É assim com tudo. Quanto menos liquido o mercado, maior a distorção em torno do preço, para mais e para menos.

PROFUNDIDADE DE MERCADO e LIVRO DE OFERTAS

Gáfico com preço, profundidade de mercado e livro de ofertas do Bitstamp

Desde que o mundo é mundo, o mercado ajusta o preço de um determinado ativo por meio de ofertas de compra e ofertas de venda, ou seja, quem quer vender determina um preço de venda e quem quer comprar determina quanto quer pagar. Quando chegam a um acordo um negócio é fechado.

Profundidade de mercado vem a ser a quantidade associada a cada preço. O exemplo mais ilustrativo para demonstra didaticamente a profundidade de mercado é a venda de passagens aéreas. Num voo com 300 lugares, a companhia vai fazer a oferta de 10 assentos ultra promocionais, 50 assentos promocionais, 200 assentos a preços “de tabela”, 20 assentos mais caros e 20 assentos caríssimos… A companhia criou um chamado “livro de ofertas” de venda.

Podemos dizer que se você está disposto a pagar qualquer preço pela sua passagem, a “profundidade do mercado” para esse voo é de 300, ou seja, qualquer passagem lhe serve. Se você limitou sua compra a passagens promocionais, a “profundidade de mercado” para esse critério é 60… E se você quiser comprar 320 passagens e não existem voos adicionais para o destino, você se ferrou, pois não existe liquidez em nenhuma camada do “livro de ofertas”.

O mesmo vale para o outro lado. Você pode construir um “livro de ofertas de compra” de compra. Agora você é dono de uma concessionária de veículos com grande poder de fogo… Você negocia com a fábrica que pelo preço de tabela você está disposto a pedir 3 carros, com um desconto de 10% você aumenta seu pedido para 10 carros e se a fábrica lhe oferecer um desconto de 30% você coloca uma ordem de compra de 50 veículos.

O livro de ofertas de compra e venda nos diz sobre a liquidez de um determinado bem, indicando as quantidades e preços que compradores e vendedores estão dispostos a negociar.

O preço de uma ação por exemplo é exatamente o preço do último negócio realizado, em que uma ordem de compra encontrou uma ordem de venda (ou você versa). O próximo negócio não necessariamente acontecerá no mesmo preço, compradores e vendedores estarão mais ou menos dispostos aos negócios e ajustarão os preços conforme a demanda.

UM PROBLEMA GIGANTE EM TODOS OS MERCADOS

Desde que o mundo é mundo, o mercado ajusta o preço de um determinado ativo por meio de ofertas de compra e ofertas de venda, ou seja, quem quer vender determina um preço de venda e quem quer comprar determina quanto quer pagar. Quando chegam a um acordo um negócio é fechado.

E se não houver liquidez? E se os livros de ofertas de compras e de vendas estiverem vazios? É impressionante a quantidade de ativos ilíquidos que existem no mercado. Até então, não havia muito o que fazer. É meio que uma espiral negativa. Vendedores não cotam porque não sabem o quanto vale, compradores não compram porque não sabem onde têm.

Em ações por exemplo, empresas de baixa liquidez são as chamadas “microcaps”, em que poucas centenas de milhares de reais em compra ou venda de ações movimentam o mercado de forma drástica (ao passo que não fariam cócegas ao valor de ações como Vale ou Petrobras, por exemplo).

Nessa altura do campeonato, espero que você tenha entendido o tamanho do problema que é negociar um ativo sem liquidez… Até então, se não houvessem compradores e vendedores para um determinado ativo, não tinha negócio…

COMO ASSIM ATÉ ENTÃO?

Uma solução para dar liquidez à ativos ilíquidos que não se baseia em um livro de ofertas foi inventada… Tem bastante gente inteligente nesse mundo…

Os primeiros artigos falando sobre esse tema são de 2000 e 2002. A solução chama-se “Liquidity pool”, vou traduzir livremente para “estoque de liquidez”, e que no mundo das Criptomoedas foi implementado com grande competência e hoje é um dos braços da chamada DeFi (Finanças descentralizadas).

Sob a ótica de um estoque de liquidez não é mais necessário um livro de ofertas, mas sim pessoas que possuem os ativos e estejam dispostas a alugar esses ativos em troca de uma tarifa. As pessoas não precisam comprar ou vender esses ativos, apenas disponibilizá-los para um “liquidity pool”.

No mundo das Criptomoedas, a cultura do “buy and hold” é fortíssima e ganhou o meme “HODL” que é repetido quase que como um mantra entre os que acreditam que o mercado irá amadurecer, crescer e expandir, logo, o que não faltam são pessoas possuidoras de ativos que não estão afim de vendê-los.

LIQUIDITY POOLS

Quantidade de uma moeda em x, quantidade de outra em y e a curva é a taxa de câmbio

Por óbvio que a coisa tem suas minúcias, mas o objetivo aqui é fazer você entender de forma resumida. Um estoque de liquidez implementa uma fórmula matemática “x * y = k”, ou seja, o câmbio (preço de compra/venda) de um ativo é determinado pelo estoque dos ativos no “liquidity pool”.

Ou seja, o preço de compra e venda é ajustado por uma fórmula e cobra-se uma tarifa fixa em cada troca (e é daí que quem contribui com o estoque de liquidez é remunerado).

Exemplo didático (vou desconsiderar a tarifa, tipicamente 0,3% só para simplificar o entendimento):

Vamos supor que temos um “liquidity pool” com 10.000 dólares (x) e 53.000 Reais (y). Multiplicando os dois valores obtemos a constante (k) e que o câmbio oficial seja de 5,30 Reais por dólar. (Só por curiosidade, os pools possuem dezenas de milhões, alguns deles, centenas de milhões de dólares em valor).

Caso alguém queira comprar 100 dólares de nosso pool… Ou seja, mandar Reais para o pool e sacar dólares. Qual seria o preço? Se você fizer as contas, para manter o nosso (k) após essa operação, faríamos uma oferta com câmbio de R$ 5,354 Reais por dólar.

Agora temos em nosso pool 9.900 dólares e 53.535 Reais, ou seja, nos faltam dólares e nos sobram Reais quando comprado ao estado inicial.

Para manter o nosso (k), uma nova oferta de venda de 100 dólares seria cotada agora a 5,463 Reais por dólar, ou seja, o pool está desestimulando a venda de novos dólares e gerando uma excelente oportunidade para quem tem dólar e quiser vender ganhar um bom dinheiro em Reais.

Nesse exato momento o nosso pool está disposto a comprar os mesmos 100 USD pelos exatos 5,354 Reais por dólar e voltar ao estágio inicial, ou uma quantidade menor, digamos, 50 USD por um câmbio de USD 5,380 Reais por dólar (um prêmio de 1,52% sobre o valor de mercado).

Se você se perdeu nas contas, relaxe, o importante é saber que a fórmula (x * y = k) vai estabelecer um câmbio de forma a estimular o equilíbrio do estoque de liquidez. Sempre que houver desiquilíbrio haverá uma oferta vantajosa para quem estiver disposto a reequilibrar o nosso pool.

Como no mercado, seja qual ele for, sempre existe aquele que busca obter uma vantagem (lucro), o pool vai sempre buscar o equilíbrio. A cada troca, uma pequena tarifa é cobrada. Essa pequena tarifa remunera os participantes do pulmão de liquidez, gerando rentabilidade.

Veja que diferente de uma Exchange, o pool não busca obter lucro do spread entre compra e venda, pois sempre haverá um spread que compense um eventual lucro anterior de modo a buscar o equilíbrio do estoque.

DeFi

Embora aplicáveis a qualquer mercado, o pulo do gato aqui é que as plataformas de contratos inteligentes, os chamados “smart-contracts” conseguem implementar estoques de liquidez sem a necessidade de confiar em uma parte terceira, ou seja, você consegue disponibilizar seus tokens para as ”liquidity pools” sem se você se desfazer deles ao passo em que o contrato inteligente te remunera enquanto os seus recursos estiverem provendo liquidez a quem deseja fazer trocas do token A pelo token B. Essa operação recebeu o nome de swap.

A rede Ethereum é basicamente uma infraestrutura para a criação de tokens, até então completamente ilíquidos e por muitas vezes não listados em nenhum Exchange. Do dia para a noite uma enorme quantidade de tokens passaram a ter liquidez, e de quebra, passaram a gerar rendimentos.

Stablecoins como USDT (Theter) podem hoje ser disponibilizadas para “liquidity pools” contra BUSD (Binance Dólar) por exemplo. Ou seja, você tem a possibilidade de ter um investimento com tokens lastreados em dólar nas duas pontas e lucrar provendo liquidez entre eles, em alguns casos com rendimentos de fazer inveja a qualquer renda fixa sem precisar abrir mão e suas moedas.

RISCOS

Por óbvio que nem tudo é alegria. O mercado de DeFi é novo, incipiente, imaturo e como você vai ler no texto do Felipe (um dos mnais badalados projetos DeFi deu o que falar na semana que passou), sujeitos às pessoas. O “Descentralized” do DeFi ainda não é tão descentralizado assim.

Falhas nos códigos dos contratos, privilégios de administrador, auditorias de código mal-feitas, ataques hacker e golpes disfarçados de “liquidity pools” são riscos que precisam ser levados em consideração.

Infelizmente, golpes usando o nome DeFi estão pipocando em todas as frentes e o episódio das ICOs de 2017 pouco ensinou ao mercado…

Outro ponto é que as próprias Criptomoedas lastreadas em dólar podem perder esse lastro do dia para a noite, sem aviso. Em última instância, você está confiando no lastro.

Para fechar o lado negativo, os grandes “liquidity pools” estão remunerando as pessoas com tokens proprietários, que possuem valor livre e flutuam ao sabor do mercado (ao invés de remunerar as comissões nas moedas base do par provido no estoque de liquidez).

CONCLUINDO

Por outro lado, existem “liquidity pools” sérias e que de fato resolvem o problema de ativos antes ilíquidos. Se o trade de Criptomoedas continuar crescendo, pode ter certeza que o DeFi e suas “liquidity pools” são tendências sem volta.

Grandes exchanges como Binance e Crypto.com, já se rendem a novidade e lançam produtos para competir com as exchanges descentralizadas remunerando clientes para operações de swap.

Eu imagino que o dia que o mercado convencional descobrir que pode remunerar descentemente Criptomoedas lastreadas em dólar em um mundo de juros negativos o fluxo para dentro das DeFi pode ser monstruoso.

Estou estudando o assunto com muito afinco e dedicando muitas horas ao aprendizado ao tema. Como pessoa física já estou experimentando essa brincadeira. Minha intenção no futuro é criar na HashInvest uma curadoria de DeFi e remunerar depósitos em Stablecoins. Não é uma promessa, mas é uma ideia.

Você deposita em Reais na HashInvest e nós convertemos seus Reais em Criptomoedas lastreadas em dólar e distribuímos em diversos projetos DeFi para maximizar lucros e reduzir riscos. Eu imagino que conseguiríamos algo entre 4 a 8% a.a. em dólar na ponta do cliente com um risco bastante razoável. Se vocês acham que essa ideia faz algum sentido, peço que me escrevam falando sobre suas percepções e se têm interesse.

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O que é, o que é… 

O que é, o que é… 

…acontece a cada quatro anos, deixa muita gente com os nervos à flor da pele e vai se repetir em 2024? 

Se você curte esportes, a resposta óbvia seria Olimpíadas, mas admito que não sou muito engajado nessa área. Para mim, o evento mais importante de 2024 é o Halving do Bitcoin. 

Este evento reduz pela metade a taxa com que novos Bitcoins são criados e a próxima vez que isto acontecerá será em abril de 2024. Isto porque estes eventos estão programados para ocorrer a cada 210.000 blocos (intervalo em que as transações de Bitcoin são processadas e publicadas).  Como cada bloco é gerado em média a cada 10 minutos, temos 144 blocos por dia. Então, em 1.458 dias ou pouco menos de 4 anos, temos um Halving e, o próximo, cairá aproximadamente em 26 abril de 2024. 

A partir desse dia, serão criados 3,125 Bitcoins a cada 10 minutos, frente aos 6,25 gerados atualmente. Isso significa que a oferta anual de novos Bitcoins será de cerca de 164.250, o que representará uma taxa de inflação de 0,88% (melhor que praticamente todos os países).  

Mas se todo mundo sabe quando e o que vai acontecer, por que tanta expectativa? 

Bom, nas 3 ocasiões anteriores em que tivemos um Halving, tivemos também um ciclo de alta bastante respeitável e que durou em média um ano e meio. 

O primeiro Halving foi em 28 de novembro de 2012 e, na sua sequência, tivemos uma valorização de mais de 8.000%. O preço do Bitcoin passou de USD 12 para mais de USD 1.000 ao final de 2013. 

O segundo Halving ocorreu em 9 de julho de 2016 e foi seguido por um aumento de mais de 2.000%, levando o preço de USD 650 para quase USD 20.000 no final de 2017. 

No terceiro e mais recente Halving, ocorrido em 11 de maio de 2020, o Bitcoin era cotado a USD 8.800. Em abril de 2021, o preço chegou a USD 64.000, ou uma valorização de 800%. 

A justificativa mais comum é de que o Halving causa uma redução na oferta de moedas no mercado, enquanto a demanda permanece constante. Seguindo as aulas de macroeconomia, isto faz os preços aumentarem. Faz sentido, mas a meu ver, demoraria um pouco para sentir os efeitos dessa escassez e a escalada nos preços não seria tão íngreme. Além disso, nos ciclos anteriores que eu presenciei, se falou muito pouco sobre o Halving ou mesmo sobre o Bitcoin em si. 

Por exemplo, o ano era 2016 e tivemos a febre das ICOs, com novas criptomoedas disruptivas sendo lançadas quase que diariamente. Em 2020, vieram os NFTs e os memes que eram vendidos por milhares de dólares. O fato é que ninguém lembrava do Halving e as pessoas estavam muito mais interessadas em outras criptomoedas/blockchains do que no próprio Bitcoin. 

De qualquer forma, seja pela diminuição da oferta, seja por trazer mais atenção para o mercado das criptos e seus projetos, historicamente, o Halving foi seguido por um ciclo de prosperidade para todo mercado das criptomoedas. Tomara que em 2024 não seja diferente.  

As dores do crescimento

As dores do crescimento

Feliz 2024, um ano que promete muitas emoções e alegrias aos stakeholders do mundo Cripto. Para uns mais emoções e para outros mais alegrias… Se você está lendo esse artigo ou simplesmente habita o planeta Terra, de alguma forma mesmo que indireta você está no grupo dos stakeholders. Não adianta mais ignorar ou negar, até os governos já ultrapassaram esta etapa!

As dores do crescimento que são comuns em crianças e adolescentes, independente de qualquer fator exógeno como cultura ou hábitos, costumam se manifestar na fase de maior crescimento ósseo, o chamado estirão.

A dor de crescimento não tem relação científica diretamente ligada às fases de crescimento físico. No entanto, ela é considerada como uma forma de identificar uma dor benigna e diferenciá-la de diversos outros problemas que causam dor em crianças.

Uma analogia dessa dor do crescimento pode ser aplicada como uma luva ao estágio de maturação do Bitcoin e de todo o ecossistema que começou a surgir a partir dele. Não existe uma relação científica e nem se trata de ciência exata. Os detentores do monopólio, seja das leis ou do dinheiro, descobriram que as tentativas de eliminar o Bitcoin e suas consequências ainda na primeira infância foram inúteis e quanto mais tentavam mais nutriam o jovem bebê. As tentativas de matar “o mal” ainda na semeadura foram muitas em diversos países; proibição, discriminação e perseguições   aconteceram de forma reiterada.

O bebê cresceu e superou com louvor as adversidades da primeira infância. Nosso pré-adolescente, teimoso e rebelde (nada diferente dos pré-adolescentes e adolescentes) está crescendo a olhos vistos e não resta outra alternativa ao patriarcado estatal tentar impor limites para manter essa jovem criatura em efervescência dentro do que ele, Estado, considera limites razoáveis dentro dos seus próprios interesses.

O aprendizado dessa conturbada relação entre governos, amigos do rei (aqui incluímos políticos, banqueiros, grandes investidores institucionais etc…) e adolescentes prodígio certamente não é fácil e acarretará em dores do crescimento ao nosso jovem mercado.

Logo na largada de 2024, ao melhor estilo das novelas mexicanas dos anos 80, tivemos a aprovação dos ETFs à vista de Bitcoin na maior economia do mundo. Foi um longo processo cheio de idas e vindas, vazamento de informações, fake news, fake news que não era fake news etc etc etc Fato é que conturbado, dolorido e longo processo a maior economia americana abriu as portas aos grandes investidores institucionais do mundo. O ETF da Blackrock foi um sucesso, isso apenas em comparação ao lançamento de todos os ETFs históricos dos Estados Unidos. Mas não passou de um cartão de visitas do que poderá vir a ser nos próximos anos. Não se supera uma fase importante da vida como a adolescência num passe de mágica, foram apenas criadas as condições para o burocrático e lento processo de migração do dinheiro grande de outros ativos para o Bitcoin. Não existem garantias que o nosso quase adolescente superará a adolescência e se tornará um jovem e saudável jovem adulto, entretanto sabemos que os antigos inimigos (como o governo americano, por exemplo) se tornarão protetores uma vez que um colapso de um ativo (quando relevante) impactará não só os amigos do rei como também os Estados Nações.

No Brasil, de forma menos relevante em termos de impacto no Bitcoin em si, mas relevante para nós tupiniquins, também estamos num processo de amadurecimento institucional e muito provavelmente com dores do crescimento que podem via a ser maiores ou menores. Com o chapéu da pessoa física, tivemos no final de 2023 a sanção da lei de taxação dos “super ricos”, como foi chamada a lei de taxação de ativos no exterior e fundos exclusivos fechados no Brasil. Nessa lei foi incluída uma tributação de 15% sobre os lucros em operações com Criptoativos no exterior. Mas não me pergunte o que isso significa, pois na lei nossos legisladores não sabiam a resposta e decidiram que a secretaria especial da Receita Federal iria regulamentar sobre esse “detalhe”. Já a Receita Federal divulgou um perguntão para esclarecer a respeito dessa nova lei e tem uma pergunta e resposta bastante esclarecedora… segue o print:

Do lado institucional, com potencial impacto indireto para as pessoas físicas, tivemos a aprovação da lei que ficou chamada como marco legal dos Criptoativos (lei 14.478/22) em dezembro de 2022. A lei, conforme decreto posterior da presidência da república, instituiu o Banco Central do Brasil como órgão regulador do setor. O Bacen levou um ano, apenas no final de 2023, para divulgar sua primeira consulta pública sobre o tema. Em resumo, 2024 tende a ser o ano da efetiva regulamentação das empresas do setor no Brasil. Considerando o prazo da morosidade das instituições públicas e uma fase de adaptação e transição, certamente não antes de 2025 teremos uma regulação em vigor.

Enfim, dores do crescimento para todos. As dores do crescimento não são ciência exata, não tem relação científica com o crescimento, mas são dores benignas e inerentes ao processo de evolução e crescimento.

Se você está esperando a adolescência passar para “entrar” nesse mercado, lembre-se que a oferta de Bitcoin é limitada e gradativamente com o dinheiro dos institucionais chegando ocorrerá um desequilíbrio entre oferta e demanda. Cabe a você decidir se quer deixar a janela de oportunidade fechar antes ou depois de você passar por ela, as dores do crescimento não são impeditivas, são apenas um sinal de que a idade adulta está mais próxima…

Feliz e próspero 2024, que você esteja no seleto grupo das emoções com muitas alegrias!

A base de tempo das coisas

A base de tempo das coisas

Se tem algo recorrente em todo início de Bull Market são os falastrões.

Em 2013, quando Bitcoin disparou junto com a crise da Grécia, a narrativa é que todos os bancos europeus iriam colapsar e seria “bitcoin to the mooooon”. Não colapsaram.

Em 2017, as ICOs (Initial Coin Offerings) iriam substituir todas as bolsas de valores relevantes do mundo e as empresas se financiariam de forma totalmente descentralizada direto das pessoas. Não aconteceu, as bolsas centralizadas lentas e demasiadamente reguladas estão aqui e as ICOs viram um supermercado de óleo de cobra.

Em 2021, a narrativa (extremamente imbecil) era do superciclo do Bitcoin, pois assim como a adoção da internet dessa vez a número de usuários e consequentemente os preços seriam em forma de “S” e exponenciariam. Não aconteceu.

Em 2024 a narrativa é que com a liberação dos ETFs e a compra de USD 500 Bilhões pelos árabes iriam promover a chamada “God candle” onde o Bitcoin subiria mais de USD 100 mil em um único dia. Não aconteceu e duvido que aconteça.

Em comum entre todas as narrativas, ciclo após ciclo, o mesmo pano de fundo. Influenciadores digitais “geradores de conteúdo” em desespero por cliques e relevância em meio a iminente perda de hype.

Há 10 anos atrás eu achava que isso era passageiro e que não era possível as pessoas se apegarem as lorotas da internet dessa maneira, tão facilmente. Hoje eu já entendi, é da natureza humana e fico é de olho em qual a lorota da vez. Sempre haverá uma lorota.

Os ETFs em si não são lorota, pelo contrário, possuem de fato o eventual poder de multiplicar o valor do Bitcoin em dezenas de vezes, mas não da forma como foi alardeada pelas paquitas dos gurus com muitos seguidores.

O processo é relativamente lento. São quase uma dúzia de empresas disputando o investimento de fundos de pensão e gestores de recursos e, o investimento dessa turma, nunca é do dia para a noite.

A coisa acontece aos poucos. Uma pequena exposição para medir a temperatura dessa coisa. Se dali a seis meses ou um ano eu me acostumar com a temperatura dessa nova água, quem sabe eu me molhe mais um pouquinho e por aí vai.

A base de tempo para essa turma estar nadando de braçada é lenta, e deve ser lenta, e não tem como não ser lenta. São comitês, votações, deliberações e não o ímpeto de uma pessoa física que segue o influencer X.

No nosso podcast (minuto hash), já fiz 2 programas dizendo que os primeiros meses da negociação dos ETFs são como um caminhão de melancias se acomodando.

Nessa acomodação, a massa falida da FTX por exemplo, aproveitou que o fundo Grayscale, da qual ela era quotista, se converteu em ETF, fechando o deságio e permitindo a saída a valor de mercado. Somente o administrador da massa falida da FTX vendeu mais de USD 1 Bi em apenas 2 dias.

Mas independente disso, o saldo dos ETF foi positivo, e lhes afirmo, que é óbvio que vai se jogar o preço par baixo no curto prazo, o objetivo é formar carteira e ter os ativos. Qual o interesse de se valorizar um ativo que eu ainda não tenho, comprar na alta como gosta de fazer o investidor médio brasileiro???

E no longo? Fundos de pensão e Hedge Funds começam com 0,1% de exposição ao Bitcoin e se ele fizer o que historicamente ele faz, daqui a pouco será 0,5% e em alguns anos, muito provavelmente serão 5% da alocação de patrimônio dos gigantes da gestão de recursos através do globo.

Não descarto a minha própria lorota conspiratória de que eventualmente um pump massivo do preço do Bitcoin seja usado para governos imprimirem dinheiro e arrecadarem impostos sobre ganhos de capital (ler newsletter anterior), mas por favor, eu vendo essa ideia como uma teoria lunática e conspiratória, não como uma verdade.

A verdade é a narrada no paragrafo anterior. Um passo de cada vez, um pequeno percentual de cada vez e todos terão exposição ao nosso mercado, e isso por si só, ao contrário de árabes comprando tudo, representará o crescimento saudável e sustentável do valor do Bitcoin, com base de tempo lenta e chata…

Poucas as vezes estiver mais Bullish com o cenário de 4 anos, que é o mínimo que você deveria olhar para entender e de fato se considerar um investidor em Bitcoin.

A volatilidade só vai reduzir quando o mercado foi muito maior do que é, até lá, nada de novo no front, o bom e velho deja vu, o museu de grandes novidades.

A recomendação é a de sempre, preço médio e constância e a certeza que dessa vez não será diferente. Vender seus BTC baratinhos para os ETFs nesse momento é abrir mão de uma quase certeza, de um evento de altíssima probabilidade de multiplicação de patrimônio com base de tempo em anos (não em dias).

Menos falastrões, incluído o que vos escreve, e mais disciplina, consistência, preço médio e foco com base de tempo em anos.

Bem vindos a 2024!